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A mostrar mensagens de novembro, 2018

III

Pedes que te conte um segredo. Mas baixinho, para não ouvires. Então a ponta dos meus dedos afasta o cabelo do teu ouvido. Ouves os meus lábios tocar levemente a tua orelha. Os teus olhos brilham, a tua atenção está ao rubro. E eu conto. Deixo escapar de um sopro só. Claro que sim, solta-se a voz e ele foge para aí. É prisioneiro de cela mal fechada e pena ainda pior cumprida. Seja sorte, acaso ou sina, não foi longe. Cortaste-lhe as pernas, salva-se a ironia. Aos teus ouvidos moribundos já não chega grito nem sussurro, e as mãos não sabem como dizê-lo. Linguagem gestual atrás de um espelho, para o emissário ver. As palavras vibram, exaltadas em silêncio. A sua monumentalidade a desaparecer na tua atenção. A tensão cresce -- e as lágrimas traçam linhas salgadas na nossa cara, umas atrás das outras, como se tentassem escavar rugas na pele macia. Passam os anos e o sal fica, cristalizado. Em algo de amargo. Em algo de doce. Um sabor de dor e de amor. E de lábios que se mexem sem ruído ca