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A mostrar mensagens de janeiro, 2017
Um dia ele disse: "se uma imagem vale mil palavras, quanto valem estas palavras que te canto?" Mas a resposta não interessava, porque o mais importante era a voz, e a voz era dele. Tinha sido comprada por meia-dúzia de tostões a um vendedor ambulante numa feira, dessas das terrinhas, onde se encontra de tudo e mais alguma coisa. Bom preço, amigo, leve que não se vai arrepender. E ele levou. Podia não ser nada de especial, mas não importava. Porque finalmente tinha uma voz, e a voz era dele. Se já tinha pertencido a outra alma qualquer, ninguém sabia dizer; se já tinha pertencido a outra alma qualquer, ninguém tinha memória. Tanto melhor. Agora a era voz dele. E o que ele fazia com essa voz era responsabilidade dele. Dele, e de mais ninguém.
Tentar? Sim. Não hesitar. Nunca! Já naquele dia fatídico ele dizia, frenético, eléctrico, possuído sabe-se lá por que demónios, "Tu não desistas! Desistir é morrer!", e eu por momentos acreditei que o louco era ele. Vai-se a fazer contas à vida, sobram moedas negras perdidas no fundo de um bolso e o rasgo de lucidez era dele, queres ver que afinal ele sabia mais que nós todos? Com mil demónios. Anda para a frente, moço, que há mais para ver.