Um dia ele disse: "se uma imagem vale mil palavras, quanto valem estas palavras que te canto?" Mas a resposta não interessava, porque o mais importante era a voz, e a voz era dele. Tinha sido comprada por meia-dúzia de tostões a um vendedor ambulante numa feira, dessas das terrinhas, onde se encontra de tudo e mais alguma coisa. Bom preço, amigo, leve que não se vai arrepender. E ele levou. Podia não ser nada de especial, mas não importava. Porque finalmente tinha uma voz, e a voz era dele. Se já tinha pertencido a outra alma qualquer, ninguém sabia dizer; se já tinha pertencido a outra alma qualquer, ninguém tinha memória. Tanto melhor. Agora a era voz dele. E o que ele fazia com essa voz era responsabilidade dele. Dele, e de mais ninguém.

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