Carta deixada numa porta fechada.

Esta carta é para ti, a cuja porta fui bater mas não a abriste.

Eu sei que não nos conhecemos, mas foi por isso que te bati à porta. Porque te queria conhecer. E porque me queria dar a conhecer, também. De coração aberto. Sem reservas, sem segundas intenções.
Provavelmente pensaste que era mais um rapaz como os outros. Provavelmente pensaste que eu só te queria usar e deitar fora, como é moda agora. Provavelmente pensaste que irias perder tempo comigo para nada, porque os homens são todos uns merdas que só querem sexo descomprometido e inconsequente. E provavelmente continuaste o teu dia sem pensar mais em mim.
Mas queres saber uma coisa?
Eu fiquei a pensar em ti.
Porque tive de reunir toda a coragem que consegui para te ir bater à porta.
Porque eu não sou mais um desses engatatões que te seduzem com duas tretas tão bem elaboradas que te fazem acreditar em príncipes encantados, para no fim te deixarem com a certeza de que vives rodeada de sapos.
Porque algo em ti me despertou a curiosidade, e me deu vontade de saber mais sobre ti.
Porque algo em ti me sugeriu que eu poderia vir a gostar de ti. Nem eu sei bem o quê. Se foi um brilhozinho nos teus olhos, o teu sorriso, ou a maneira como mexes no cabelo.

E isso fez-me pensar noutras coisas. Fez-me dar largas à imaginação. Sonhar acordado.
Com um primeiro encontro. Ir ter contigo com o estômago cheio de borboletas e o coração na garganta.
Com uma conversa interminável em que tu me contavas o que viveste e que te tornou na pessoa que és hoje. Os teus gostos, as coisinhas pequenas que te irritam, o teu futuro perfeito.
Com uma noite a observar as estrelas no meu lugar favorito, a tua cabeça no meu ombro e eu a beijar-te na cabeça com o teu cabelo a fazer-me cócegas no nariz.
Com aquela viagem que sempre quiseste fazer. E eu completamente apaixonado a fotografar-te a cada passo, porque tu não queres nunca esquecer que ali estiveste e eu quero imortalizar toda a magia desses dias.
Com o dia em que te vejo caminhar em direcção ao altar, onde eu te espero, a tremer num misto de ansiedade e felicidade.
Com uma vida a teu lado, a dar o melhor de mim para fazer de ti a mulher mais feliz do Mundo em todo e cada dia das nossas vidas.

E até podia tudo isto não passar de uma colecção de sonhos. Podíamos até nunca chegar a passar da primeira conversa porque não despertávamos interesse um no outro suficiente para sequer sairmos juntos.
Mas agora ficamos ambos sem saber, porque tu pensaste que eu estava a vender algo que não querias comprar. Fizeste de conta que não estavas em casa e nem sequer pensaste em me dar uma oportunidade. Em nos dar uma oportunidade.
Por isso, há uma coisa que te queria pedir.
Se eu algum dia conseguir reunir novamente coragem para bater à tua porta, por favor pensa que talvez eu seja diferente do que esperas.
E que abrires a porta para mim, talvez até possa ser a primeira página de um livro com um final feliz para nós.

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