Danças na escuridão



Apagaram-se as luzes. E nós ainda estávamos a dançar, tantos passos ainda por dar… Mas apagaram-se as luzes e, de súbito, tu já não estavas lá. As minhas mãos, que momentos antes se agarravam a ti, tactearam cegamente o vazio da escuridão. Tropecei. Caí. Perdi o chão, tive de o abraçar para o encontrar. Para me encontrar? “À noite todos os gatos são pardos” e eu não fui excepção. Encontrei-me; a custo de uma sombra mais negra que a escuridão que me rodeava. A minha. Depois de a coser ao corpo, ergui-me. Podia estar cego mas não surdo; a música não parou? Não. A música não parou, nem por um segundo. E o corpo sabe, o corpo não esquece. Os movimentos. Os passos. A dança ao ritmo do coração que faz tremer os tímpanos. Então dancei na escuridão. Com alma, sem alma; consciente e inconscientemente. Por paixão. Sem ela. Ainda que dance sozinho. Até que alguém acenda as luzes.

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