Janela

Olho pela janela. O Mundo corre lá fora. Apressado em rotação mecânica. Apático, indiferente aos corpos à boleia no vazio. Num rumo que ninguém vai alterar. Mas porque olho pela janela? O Tempo aqui abrandou. Porquê olhar pela janela? Viver vicariosamente outras vidas, outras histórias que não a minha? Não, isso não é viver. Fica aqui. Mas aqui o presente é um sonho... E depois? Sonhar não é viver? Do sonho também se faz a realidade. Então sonhar! Sonhar alto! De areia também se fazem castelos. Monumentos à força e ao engenho. Cada grão de areia um passo. Cada grão de areia um momento. Blocos que constroem toda uma vida. E assim do éter se fez algo de palpável. Consubstanciado numa vida. Uma história. Página a página, cada um desses momentos um testamento à passagem inexorável do tempo. Escritas a uma mão. A dez, a mil. Por todas aquelas que acrescentam uma linha, um capítulo, uma nota de rodapé. E as minhas páginas em branco podem ser tuas para escrever. Para descrever um sonho, e com isso moldarmos a realidade. A nossa realidade. Para que seja a nossa vida. Aqui. E não apenas aqui. Lá fora. Do outro lado da janela. Mas agora, só por agora, não olho pela janela. Porque aqui abrandaste o Tempo. E este momento pode ser só meu. Na esperança que um dia seja teu também.

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